Saturday, April 28, 2007

Olhei para a mais alta das prateleiras: estava lá o pequeno diário, todo empoeirado. Hesitei por uns minutos, que invenção a minha de mexer com poeira justo hoje, quando minha garganta arde por causa da gripe. Mas é que já há algum tempo essa idéia me vem à cabeça quando menos espero. Viagem? Seria agora, passados mais de dez anos, capaz de reproduzir textos que só existiram na minha cabeça? No papel, as coisas eram bem diferentes; nunca podia escrever o que de fato pensava. Podia. Não conseguia.

Abri o diário no colo. Cor-de-vinho, já meio desbotado pelo tempo, as páginas cinzinhas meio amareladas e a travinha do cadeado toda oxidada. O cadeado, claro, não existe mais. Nem atacaria, já que ele ficou inchado de tanta carta que tinha colada dentro.

Olhei para minha letra grande, redonda. Quem diria que se tornaria tão pequena depois de adulta? Olhei os recortes. Abri exatamente na página que registrava o aniversário da minha mãe; na página ao lado, contava que tinha feito as pazes com a vizinha. Tinha alguns desenhos, acho que meus primeiros croquis de moda. Abri algumas das cartas. Fiquei triste ao ler em uma delas "Por que você não me escreve mais? Esta já é a terceira carta sem resposta". E, na assinatura, "Escreva rápido".

Interessante mexer com coisa velha...

1 comment:

Anonymous said...

Eu sempre acho um grande prazer encontrar essas coisas do passado. Sorrio com coisas que antes me faziam chorar e choro com coisas que antes me faziam sorrir. E assim alimento minhas emoções, já tão dissipadas pelos inconvenientes cotidianos. bjão, maca