Sunday, October 30, 2011

hoje - metade vazia -

Hoje acordei com um mal-estar, um vazio enorme e muita indisposição para fazer minhas coisas. Sei que o normal é eu achar que isso é falta de remédios e que me entupir de fluoxetina vai resolver tudo, como sempre resolve. Mas a falta de um psiquiatra que me inspire confiança, em vez de me entupir de remédios, me fez abandonar o tratamento muito irresponsavelmente pela 8938776ª vez. O que me tem feito mal é a quantidade de coisa na minha agenda mal-administrada. Não tenho disciplina para estudar, para produzir, adio coisas. Sei que esse é um momento da minha vida em que eu deveria acordar para estudar e estudar para dormir, com pequenas pausas para água, comida e banho. Mas sinceramente eu não sou assim. E aí uma enxurrada de pensamentos vêm à minha cabeça: que eu não tenho vocação para a carreira acadêmica, que sou preguiçosa, que tudo o que eu produzo está uma m**** (porque eu poderia ter dedicado mais tempo). E se eu saio pra tomar um sorvete e durmo um pouco mais, sinto culpa. E, nas horas em que estou no ballet, sinto culpa. E se paro pra fazer minhas unhas - ainda que uma vez por semana - sinto culpa. Nos próximos dias, vou estudar da hora em que acordo à hora em que vou dormir - será que consigo? Será que isso vai aliviar esse mal-estar de sentir culpa?

Começo a me questionar se o mestrado é realmente viável para uma pessoa hiperativa. Mas na falta de um psiquiatra bom, que me fale de todos os meus limites e também de potencialidades, em vez de me dar diagnósticos pobres e secos, eu fico tentando encontrar as respostas em mim mesma. Será essa minha vocação? Será que tenho vocação para alguma coisa além de comprar maquiagem e perfume?

Wednesday, October 26, 2011

Aquelas coisas pequenas que fazem tão bem

E eis que minha Internet cai e me deixa quatro dias alheia a meus compromissos acadêmicos (tem uns e outros serviços de Internet que acham que uso doméstico = vadiagem...). E o computador do bophe dá aquelas broncas bizarras que precisa trocar 872329895809 peças. Viramos cara-metades: eu com computador e ele com Internet, unimos nossas forças (que épico!). Cruzei a cidade e levei o computador para a casa dele para descascarmos juntos nossos pepinos. De lá ele seguiria comigo pro ballet, onde eu encararia uma maratona de aula-ensaio-aula-ensaio e então ele voltaria pra casa comigo (pra eu não voltar tarde e só pelas quebradas do Recife).

Na hora de sair, ele pegou um CD de Ramones para ouvirmos no carro. O caminho da casa dele para a escola de ballet, às 17 e lá vai, é percorrido na velocidade de uma procissão, o que me irrita muito. Mas ontem fomos ouvindo aquela coletânea de Ramones, todos ainda tão vivos ali no carro! O trânsito nem me incomodou, distraída que estava entre um comentário babaca e outro, uma "matação de vida alheia" e trilha sonora de primeira. Não estávamos tomando vinho em taças de cristal numa praia paradisíaca em noite de Lua cheia. Estávamos no trânsito ensandecido do Recife falando potoca e rindo das nossas próprias mamonices.

Nas próximas horas, eu teria uma maratona de ballet e dança contemporânea que só me liberaria por volta das 22h, quando costumo sair suada, porquinha e toda descabelada. E aí, minutos antes de estacionar na escola de dança para começar, meu bophe diz: "Vamos sair pra comer depois da sua aula?". E destruímos megassanduíches com refis e refis e refis de refrigerante e fomos para minha casa arriar a carcaça. Hoje, saímos juntos pela manhã, eu para um evento do mestrado e ele para uma reunião. O CD de Ramones dele ficou no meu carro.

Agora me responda: dá pra ser mais feliz?

Tuesday, October 11, 2011

Sagrado Coração*

Sei que tenho um coração
Mas é difícil de explicar
De falar de bondade e gratidão
E estas coisas que ninguém gosta de
falar

Falam de algum lugar
Mas onde é que está?
Onde há virtude e inteligência
E as pessoas são sensíveis
E que a luz no coração
É o que pode me salvar
Mas não acredito nisso
Tento mas é só de vez em quando

Onde está este lugar
Onde está essa luz ?
Se o que vejo é tão triste
E o que fazemos tão errado ?

E me disseram! Este lugar pode estar
sempre ao seu lado
E a alegria dentro de você
Porque sua vida é luz

E quando vi seus olhos
E a alegria no seu corpo
E o sorriso nos seus lábios
Eu quase acreditei
Mas é tão difícil

Por isso lhe peço por favor
Pense em mim, ore por mim
E me diga: - este lugar distante está
dentro de você

E me diga que nossa vida é luz
Diga que nossa vida é luz
Me fale do sagrado coração
Porque eu preciso de ajuda

* Uma homenagem a Renato Russo por ocasião dos 15 anos de seu falecimento.

Vai "fazer a Suelen"? Entenda suas motivações

No meu círculo de amigos, a expressão "fazer a Suelen" (sim, este é meu nome) foi criada como sinônimo de comprar loucamente, sem racionalidade alguma. Havia até quem dissesse: "Hoje tô de mau humor, queria ir ao shopping e 'fazer a Suelen'". Nunca fiquei chateada com meus amigos, mas, sim, com a minha condição. Para quem não sabe, tenho compulsão. Já fui diagnosticada e não tomo remédios porque o custo-benefício não compensa. Os efeitos colaterais são detestáveis. Muita gente acha curioso como eu sendo publicitária e estudando consumo frequentemente caia nas suas "armadilhas". E aí eu pergunto se um médico, por conhecer os efeitos nocivos da cocaína no organismo, está livre de ficar dependente ao usá-la. Não, não está.

Há quem diga que o consumo na pós-modernidade seja patológico, doença social, etc. Tenho minha opinião a respeito, mas não convém falar disso agora. É lógico que o ser humano compra muito mais do que necessita e que há todo um sistema por trás disso blá blá blá... O problema, em nível individual, é quando ele é fonte de mal-estar: logo, é patológico. Se você compra mais que precisa e isso não lhe traz prejuízos nem financeiros nem pessoais, é consumismo. Se esse consumo começa a prejudicar vários aspectos da sua vida, isso é compulsão.

O filme Os delírios de consumo de Becky Bloom é uma comédia, mas poderia perfeitamente ser um drama. Os pensamentos que se passam na cabeça dela antes de cada decisão de compra descenessária, ainda que no filme sejam tratados de forma cômica, são reais e nem de longe são motivo de risos. Muito pelo contrário: para quem está nessa situação, eles são muitas vezes motivo de choro, noites sem dormir, irritação, etc.

Eu já fui uma pessoa extremamente controlada. Consumista, mas controlada. Aquela que compra o desnecessário por prazer, sim, mas sabe que o limite é a sua renda. De chegar ao fim do mês com dinheiro suficiente, desconhecer completamente o cheque especial e até poupar. Mas, assim como muitos transtornos psiquiátricos, algum impacto emocional desencadeou esse comportamento doentio.

O angustiante da compulsão por compras é que aos poucos ela lhe tira a autoconfiança. Quando você esconde cartões, evita sair pra não comprar e basta uma pequena brecha para tudo vir à tona. Longe de ser uma pessoa irresponsável, sou alguém que luta contra algo bem mais forte que meu senso de responsabilidade. E o que mais me entristece é saber que tanto faz eu ganhar a bolsa de mestrado que ganho atualmente quanto um bom salário, é provável que eu vá estar sempre apertada. Provável e lamentável.

Enquanto estudo consumo, pós-marxismo, pós-modernidade e outros pós, penso em mim nesse bolo todo e em como todo um sistema aliado a pequenas fraquezas pessoais fez de mim uma Becky Bloom. Totalmente desacreditada desses remédios que resolvem um problema e trazem dez outros, tenho esperança de que esse conhecimento mais o autoconhecimento que todo dia tenho buscado me ajude a converter teoria em prática e sair dessa um dia.