Tuesday, October 11, 2011

Vai "fazer a Suelen"? Entenda suas motivações

No meu círculo de amigos, a expressão "fazer a Suelen" (sim, este é meu nome) foi criada como sinônimo de comprar loucamente, sem racionalidade alguma. Havia até quem dissesse: "Hoje tô de mau humor, queria ir ao shopping e 'fazer a Suelen'". Nunca fiquei chateada com meus amigos, mas, sim, com a minha condição. Para quem não sabe, tenho compulsão. Já fui diagnosticada e não tomo remédios porque o custo-benefício não compensa. Os efeitos colaterais são detestáveis. Muita gente acha curioso como eu sendo publicitária e estudando consumo frequentemente caia nas suas "armadilhas". E aí eu pergunto se um médico, por conhecer os efeitos nocivos da cocaína no organismo, está livre de ficar dependente ao usá-la. Não, não está.

Há quem diga que o consumo na pós-modernidade seja patológico, doença social, etc. Tenho minha opinião a respeito, mas não convém falar disso agora. É lógico que o ser humano compra muito mais do que necessita e que há todo um sistema por trás disso blá blá blá... O problema, em nível individual, é quando ele é fonte de mal-estar: logo, é patológico. Se você compra mais que precisa e isso não lhe traz prejuízos nem financeiros nem pessoais, é consumismo. Se esse consumo começa a prejudicar vários aspectos da sua vida, isso é compulsão.

O filme Os delírios de consumo de Becky Bloom é uma comédia, mas poderia perfeitamente ser um drama. Os pensamentos que se passam na cabeça dela antes de cada decisão de compra descenessária, ainda que no filme sejam tratados de forma cômica, são reais e nem de longe são motivo de risos. Muito pelo contrário: para quem está nessa situação, eles são muitas vezes motivo de choro, noites sem dormir, irritação, etc.

Eu já fui uma pessoa extremamente controlada. Consumista, mas controlada. Aquela que compra o desnecessário por prazer, sim, mas sabe que o limite é a sua renda. De chegar ao fim do mês com dinheiro suficiente, desconhecer completamente o cheque especial e até poupar. Mas, assim como muitos transtornos psiquiátricos, algum impacto emocional desencadeou esse comportamento doentio.

O angustiante da compulsão por compras é que aos poucos ela lhe tira a autoconfiança. Quando você esconde cartões, evita sair pra não comprar e basta uma pequena brecha para tudo vir à tona. Longe de ser uma pessoa irresponsável, sou alguém que luta contra algo bem mais forte que meu senso de responsabilidade. E o que mais me entristece é saber que tanto faz eu ganhar a bolsa de mestrado que ganho atualmente quanto um bom salário, é provável que eu vá estar sempre apertada. Provável e lamentável.

Enquanto estudo consumo, pós-marxismo, pós-modernidade e outros pós, penso em mim nesse bolo todo e em como todo um sistema aliado a pequenas fraquezas pessoais fez de mim uma Becky Bloom. Totalmente desacreditada desses remédios que resolvem um problema e trazem dez outros, tenho esperança de que esse conhecimento mais o autoconhecimento que todo dia tenho buscado me ajude a converter teoria em prática e sair dessa um dia.

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