Monday, August 13, 2012

Alisamento não! Nasci assim

(Nenhum dado abaixo é tirado de pesquisa ou outra fonte segura, tudo observação. Podem corrigir as viagens.)

O Brasil tem mais de 60% da sua população com cabelos cacheados. Assim li numa revista Toda Teen quando a Seda lançou sua primeira linha para cachos e anunciou lá. Isso em 1998. Ou seja: só no fim do século XX as marcas populares começaram a se preocupar com um público que é maioria no País.

Culpa das marcas? Não. Reflexo de uma sociedade que por anos rejeitou ou cachos, transformando os fios lisos praticamente numa obrigação. E hoje, apesar do imenso mercado de produtos para cachos que felizmente surgiu, ainda há quem prefira tranformá-los em fios lisos. E, claro, as tecnologias para isso evoluíram tanto quanto - e eu diria mais que - aquelas voltadas para os cachos.

Mas tem algo que ainda não mudou: a palavra-tabu - alisamento - praticamente um palavrão, daqueles que a gente não pode falar dentro de casa porque atrai coisas negativas. Parapra pensar e olhe à sua volta: quantas pessoas não têm cabelos lisos obtidos articifialmente (e se o número de pessoas que você sabe é grande, imagine aquelas do time do "nasci assim" - que não são poucas)? Quantas dizem ter feito um alisamento? Agota tenta fechar a equeção. E aí? O resultado bate? Não mesmo!

Nos anos 80, era uma tal de massagem. Nos anos 90, o bagulho sofisticou: relaxamento, alongamento, amaciamento e outros "mentos", menos alisamento porque moça direita de família não usa esses palavreados. No fim, todo mundosabia do que se tratava e identificava facilmente que o tal alisante (outro nome proibido) pelo cheiro que aquilo exalava. Naquela época, era impossível não perceber quando um cabelo era naturalmente liso e quando era espichado (ops! alongado), mas tinha gente com cara de pau o suficiente para negar que o tinha feito. Os salões, porsua vez, não iam constranger suas clientes com esses palavrões, e cada vez criavam um nome novo para a mesma aplicação fedorenta de tioglicolato de amônia que deixariam seus fios lisos e duros feito um capacete. E cada nome mirabolante implicava um preço igualmente mirabolante, e o pobre "alisamento" lá, na última linha da tabela de preços, custando no máximo dez conto.

Mas, gente, século XXI tá aí, e esses procedi"mentos" são coisa do passado. Vivemos a era das escovas. Agora evoluímos, um número maior de mulheres já assume que os cabelos não são naturalmente lisos porque usam as escovas milagrosas: escovas progessiva, definitiva, de morango, de chocolate, de caipirinha, de sushi, gradativa, emotiva, radioativa e o c******! O que mudou?

Tecnicamente, muita coisa. A grande maioria das escovas se enquadra em um dos dois grupos: progressiva e definitiva. [agora vai a explicação de leiga] A progressiva é uma espécie de hidratação acrescida de alguma substância conservante (formol, parabeno, etc.) para manter o fio do jeito lisinho por mais tempo. O efeito no cabelo dura o tempo de um espirro, mas o efeito noseu pulmão dura para sempre. A definitiva, segundo li, é uma espécie de alisamento com tioglicolato ou guanidina (substâncias alisantes, aquelas que cheiram mal) que, na etapa da nautralização (etapa em que há um trabalho mecânico para alisar os fios), recebe um reforço do secador e da chapinha. É basicamente um alisamento, mas com técnicas mais sofisticadas. Quimicamente, me parece semelhante.

Socialmente, nada mudou. Porque os salões continuam vendendo seus alisamentos como se fossem escovas. "Escova de Júpiter", "escova sedativa", "escova de cacto", e, quando você vai ver, é só um nome diferente para a velha e conhecida pisa no cabelo. Hoje, a meu ver, o negócio é bem mais grave. Porque, sem saber ao certo o que o salão A aplicou no seu cabelo, a cliente pode ter um problema grave de compatibilidade ao mudar para o salão B. Ou ouvir a história "progressiva é compatível com tudo", aplicar determinada química e o cabelo sofrer um corte químico e ficar despedaçado. Isso porque progressiva pode até ser compatível com tudo (e eu nem acredito muito nisso), mas o que aplicaram não é progressiva. Tô cansada de ouvir menina dizer que fez progressiva e precisa fazer a raiz: não, lynda, você não fez progressiva, porque progressiva de verdade cai e não precisa fazer raiz, você faz foi alisamento, saiba você ou não e, principalmente, ASSUMA você ou não.

Porque o que falta ao brasileiro é se assumir, assumir que quer mudar, que prefere ter fios lisos, e não como nasceu. Porque os salões só fazem esse tipo de "eufemismo" porque as mulheres não se assumem, têm vergonha de admitir que seus lisos são artificiais. É claro que isso não exime os salões de sua responsabilidade, mas se alisamento não fosse um tabu estaria figurando lindamente nos portfólios dos salões mais sofisticados. Isso porque o alisamento é mais seguro, certificado pela Anvisa, não é batizado (como as escovas milagrosas são), dispõe hoje de métodos muito mais sofisticados e grandes marcas (vê se os grandes laboratórios fabricam escovas?).

Então, tá na hora de a mulherada parar com essa frescura de negar seus alisamentos e parar de ficar inventando nomes bonitos para a velha conhecida pisa. Afinal, num mundo repleto de coisas articifiais, qual mal há em escolher (e manipular quimicamente) a textura dos seus cabelos?