Thursday, February 09, 2012

Lucratividade plus size

Há alguns anos surgiu a polêmica da modelo magrela: que aquilo era absurdo, que uma pessoa não pode manter aquele peso sem prejuízo à saúde, que aquilo estava desencadeando transtornos alimentares em pessoas jovens, "má influência", "fábrica de anoréxicas", etc. Mas o que dizer dessa moda de modelos plus size? Se seguíssemos o mesmo raciocínio de que as modelos magras são um estímulo aos transtornos alimentares, podemos dizer que as modelos plus size são um estímulo à alimentação desregrada e ao sedentarismo. No fim, tudo fal mal à saúde, não é? Mas todo mundo acha a modelo plus size uma expressão de democracia, um reconhecimento de que cada shape tem sua beleza, de que a mulher com sobrepeso não é necessariamente feia, etc. E, no fim das contas, esse discurso é muito bem-aceito pelas mulheres com sobrepeso, porque muito cômodo, afinal muitas delas já estão exauridas de recorrer a dietas, exercícios, e simplesmente não tocar para frente porque implica uma mudança muito grande de hábitos... para a qual não estão preparadas. Por outro lado, sabemos que nem todos os que estão acima do peso o estão por maus hábitos: há inúmeros fatores, que vão de genética à escolha pessoal de cada um, e não necessariamente refletem uma pessoa descuidada.

Nem toda magra é saudável. Fui assitir a um desfile, e a modelo parecia não ter um músculo sequer. Era magra, mas muito flácida e passava uma imagem de frágil. Fora que o "magra" era uma ilusão: a menina tinha lá seus depósitos de gordura, mas como tinha pouquíssima musculatura era leve, logo... "magra". Pele, ossos, gordura. Por outro lado, nem toda gorda tem as artérias entupidas e é sedentária. Moral da história: se a estética é uma opção de cada um, faça suas escolhas pondo sua saúde em prioridade.

O que me preocupa nessa história das modelos plus size é que ela não tá aí pra fazer você se sentir bem, levantar sua autoestima, criar uma moda "democrática" ou romper com a "ditadura" da magreza. Ela é fruto de um discurso muito bem-articulado de um mercado que fatura milhões e que enxerga, num mundo onde a obesidade cresce exponencialmente, um enorme potencial de lucro. Vejam bem: é mais fácil para a indústria inverter uma tendência (que é o aumento da obesidade) ou usá-la a seu favor? Nem precisa responder, né? Primeiro, porque a indústria da moda (e adjacentes) não tem nada com sua saúde e está pouco se preocupando se o aumento da obesidade é um problema de saúde pública. Como eu disse, é um problema de saúde pública, não deles. Mas o seu ego lhes interessa, sim. Porque o consumo de moda tem muita relação com autoestima, e não convém deixar um público que está se tornando maioria confinado em lojinhas de nome engraçadinhos, separadas das lojas para pessoas "normais". É preciso incluir, oferecer, numa mesma loja, peças de 36 a 56, sem distinção alguma.

Nesse sentido, eu acho que incluir é o caminho certo, é romper com uma distinção que nunca fez sentido algum e só humilhou as pessoas com sobrepeso. Só tenho meu pé atrás com a maneira que essa "inclusão" está sendo feita. Com um discurso inconsequente de "como é bonito ser gordinho", "homem não é cachorro pra gostar de osso", etc., mulheres que já tinham dificuldades em aderir a uma rotina de exercícios ou reeducação alimentar sentem-se mais confortáveis pra soltar as rédeas e comer de tudo sem culpa e não caminhar 100 m.

Então, vale para as magras, as médias, as gordas: sim, é verdade que todo shape tem sua beleza, que é questão de gosto. Mas isso não significa ficar subnutrida para emagrecer ou aceitar-se gorda para não ter que abrir mão de tortas e afins. Magra ou gorda, o que não dá é ser incapaz de subir um lanço de escada sem ofegar, passar mal com uma corridinha de leve e ter só açúcar e gordura na veia. No peso que você escolheu, cultive sua saúde.

Tá na hora de mostrar que o discurso modelo plus size é tão perigoso quanto o da modelo ultramagra. Tá na hora de refletir sobre quais interesses residem por trás desse discurso de "permissividade", sustentado por agentes que querem sua fatia de mercado cada vez maior, independentemente de estimular ou coibir maus hábitos. A indústria não tá aí pra te educar, mas para lucrar; se pra isso ela precisar ser permissiva com seus maus hábitos ou até estimulá-los, não hesitará em fazê-lo.

Gorda ou magra, independentemente de sua escolha, faça-o sem descuidar da sua saúde. Não sou mais nenhuma menina e já não tenho os mesmos 45 kg de cinco anos atrás. Por outro lado, apesar do metabolismo mais lento, hoje tenho mais disposição e taxas melhores que naquela época. É claro que gostaria de ter meus 45 kg de volta, mas isso é um gosto pessoal meu. Mas fico feliz em saber que hoje estou mais saudável que naquela época. #ficadica