Monday, September 15, 2008

Confissões de uma pedestre II

Av. Agamenon Magalhães, 23h15. A cidade já dorme, e eu gostaria de poder fazer o mesmo. Mas se fizer corro o risco de perder a parada (talvez alguns pertences). Eram 6h35 quando vesti a roupa que estou usando agora...

Eu sou mais uma entre um "mói" na integração, tentando preservar o mínimo de sanidade mental a despeito de toda essa correria, das minhas escolhas estranhas e despropositadas. Sabem o que eu vou ganhar com tudo isso? Eu também não.

Tive um dia dos mais compridos. O primeiro ônibus do dia atrasou dez minutos, o que significa uns trinta de retenção mais pra frente. É a estranha matemática do trânsito: apenas dez minutinhos fazem toda a diferença. Duvida? Experimente sair de casa um dia às 7h e no dia seguinte sair às 7h10 fazendo o mesmo percurso. No fim dele, serão mais de 20 minutos de diferença, é a exótica progressão geométrica do atraso. Pensava nisso enquanto olhava a Agamenon pela janela do ônibus: vazia às 23 e tantas... Acho que tenho dificuldade em fechar Gestalts: para mim, é como se fossem duas avenidas, uma clara e tumultuada e outra escura, cheia de refletores e vazia de trânsito. Desde pequena tenho o hábito de olhar o mesmo ambiente de dois ângulos e enxergá-lo como se fossem dois dintintos. Vá entender...

O segundo ônibus (calma, são cinco) ficou um século num congestionamento na Av. Rosa e Silva. O motivo? Sei não. Resolvi aproveitar que o busão não tava trepidando para ler. O terceiro ônibus foram dois: uma para a integração e outro para a universidade. Assim que cheguei ao ponto na integração, o ônibus fechou a porta para sair. Nem sequer tinha dado ré quando acenei. O motorista me ignorou solenemente e saiu. O quarto ônibus foram dois: busão e metrô. Mas foi na estação Barro que não agüentei mais: estava com sono, cansada, precisando de um banho e ainda muito longe de casa. Chorava enquanto o metrô demorava uma eternidade. Me angustiava estar ali. Me angustiava me angustiar por uma coisa tão normal, por chorar por tão pouco. E aquelas pessoas ali? Quantas delas não estariam mais cansadas que eu? Quantas não trabalham muito mais, não estudam muito mais, não chegam muito mais tarde em casa?

O último ônibus do dia (o quinto que na verdade foi o sétimo) me ajudou a recobrar a paciência. Uma mulher que se dizia epilética pedia ajuda. Tinha já uma certa idade. E me incomodou tanto sonhar cum um carro enquanto bem perto de mim há alguém que apenas deseja comida. É estranho ser gente...

No comments: