Thursday, July 05, 2012

Passeio na feira

Greve de ônibus por aqui. Terminadas as aulas, uma longa espera no ponto do ônibus, onde algumas alunas tomavamm sorvete e ficaram me incentivando a tomar (e ficar gorda :p). Não sabia por onde ir nem como ir, se de ônibus, metrô, van, o escambau... Apenas sabia que não convinha cruzar a Agamenon sob o risco de outro rebuliço semelhante ao da última terça-feira, quando pessoas foram obrigadas a voltar a pé para suas casas. Decidi pegar um ônibus e descer no centro de Afogados, onde pegaria um ônibus que seguiria por uma perimetral. Mas o sorvete criou um bichinho em mim. Queria porque queria um Chicabon, nem tomei minha tradicional Coca-Cola, porque queria o tal Chicabon. Desci no centro de Afogados e, quando me deparei com aquele mundo de lojas, botecos, barracas, etc., tive um surto de felicidade: não era possível que no caminho do ponto de ônibus eu não encontrasse algum Chicabon. E fui andando. Mas a caminhada me reservava um monte de surpresas que eu não esperava. É que aquele lugar, muito mais que um centro comercial tumultuado num sol escaldante das 15h30, era uma lembrança da minha infância mais viva do que eu imaginava.

Até os quatro anos de idade, morei num bairro próximo ao centro de Afogados, e meus pais iam religiosamente todo fim de semana àquele centro comercial, comigo e com meu irmão. Passei numa esquina e me lebrei do meu primeiro corte de cabelo, num salão que ficava ali, no primeiro andar. Olhei para o outro lado e me lembrei de uma banquinha que ficava na calçada, onde minha mãe certa vez comprou para mim um chaveiro de borracha com a inicial do meu nome... e que eu, por ouvir a palavra borracha, achei que servia para apagar lápis e fiz a maior borradeira na página do meu caderno. Mais adiante, o mercado público. Como era enorme nas minhas lembranças, e como ficou pequeno depois que eu cresci.

E fui caminhando sem pressa, mesmo cansada e com sono acumulado, louca para chegar em casa. Uma mistura de cheiro de frutas, um cheiro forte de caju... mas seria época de caju? Olhei para trás, não vi caju algum, e continuei na busca do meu picolé. Até que cheguei à estação do Metrô, fim das lembranças, hora de embarcar? Não. A viagem inaugural do metrô do Recife, numa tarde ensolarada como a de hoje, na companhia de minha mãe e meu irmão, estavam lá, vivinhas, como se tivessem acontecido ontem. A viagem era gratuita, descíamos de estação em estação para darmos uma voltinha, muitas delas ainda inativas, protegidas por cordões de isolamento, por onde o trem passava direto, sem parar. Uma tarde divertida...

Um ano depois, a família não seria mais a mesma, não teríamos às idas ao centro de Afogados aos fins de semana, o metrô seria uma realidade bem distante do bairro onde fui morar, e em nenhum momento dos anos que se seguiram desenvolvi algum tipo de saudade ou nostalgia. Só não pensei que, ao pisar lá ao acaso, tivesse lembranças tão vivas.

Não encontei o Chicabon, mas tomei um genérico de 175 kcal e estou carregando essa culpa até agora...

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