Tuesday, May 22, 2012

A Ponte

Eu olho pra minha vida e de repente me vejo cruzando uma ponte enorme, que eu me sinto obrigada a percorrer numa velocidade muito maior do que eu gostaria. É isto: eu me sinto obrigada. O que está do outro lado da ponte, eu não faço a mínima ideia. Apenas sei como cheguei a ela. O lado onde eu estava tornara-se insuportável, o lado oposto parecia belíssimo, e a ponte fora a única saída que encontrei pra fugir daquele ambiente inóspito. Talvez houvesse outras saídas, mas a ponte foi a única que eu encontrei e que me deu segurança de seguir em frente. Mas, ao pisar o primeiro pé nesta ponte, percebi que segurança é tudo que eu não teria ao longo do percurso. Cada passo que eu dou faz despencar um pedaço dela, de modo que não posso voltar atrás. Eu estou exatamente no meio dessa ponte. Estarrecida com a velocidade com que os blocos caem e me obrigam a cruzá-la numa velocidade cada vez maior e sem saber se o que está do outro lado é melhor que o ambiente inóspito de onde fugi. Gostaria mesmo é de cruzar a ponte devagar, tem uma paisagem linda e cheia de detalhes ao meu lado, e apreciá-la talvez minimizasse a insegurança de não saber o que está do outro lado. Não poder contemplar cada detalhe dessa paisagem me deixa frustrada. Saber que os blocos caem e que não posso desistir do percurso me deixa apreensiva. Imaginar que, se não a cruzar na velocidade necessária, posso despencar me deixa em pânico. E corro simplesmente pelo medo de cair. Corro porque eu tenho que correr. A esta altura, nem cruzo mais a ponte pelo desejo de estar do outro lado, mas para não cair com os pedaços que se desfazem. Que pena! Imaginava eu que seria este o caminho mais bonito que percorreria na minha vida...

6 comments:

Ana Carolina said...

Acho que de uma certa forma todos nós estamos numa ponte assim. Todos nós fazemos escolhas que não têm volta, ou pelo menos aparentemente sem volta... Todos nós enfrentamos dificuldades e temos nossas aspirações, nossas ilusões, nossos sonhos. Quanto a apreciar a paisagem nessa trajetória, também é uma escolha que temos. Acho que às vezes nós supervalorizamos os nossos problemas e assim eles se tornam tão grandes que nós nem mesmo conseguimos suportar. Olhar pra os lados um pouco, respirar fundo, às vezes não só é bom como é necessário pra ganhar forças e um novo fôlego.

Macabea said...

O desabafo é justamente porque NÃO tive a escolha de apreciar a paisagem. Esta é a frustração :(

Joanna d'Arc said...
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Macabea said...
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Joanna d'Arc said...

Se tem uma coisa que eu tenho tentado "cantar em mantra" e aprender é que o problema dos outros, para eles mesmos, é gigante e maior que os nossos!
E olha que eu sou de passar as coisas na cara hehehehehe
Agora mesmo li um poema do Mário Quintana que postaram no face sobre o tempo que perdemos, e não é que fazemos isso mesmo? Mas eu acho que todos nós fazemos isso por uma mesma razão: esperança por um amanhã melhor e confortável. Força Su, tenho certeza que vamos atravessar, chegar do outro lado, e poder dar uma "espiada" nessa paisagem que passou, antes de vislumbrar uma ainda mais bela à frente ;)

Macabea said...

que bom que você me entende! lá no programa tá todo mundo se sentindo assim. a gente quer aprender, fazer benfeito, mas tem outras obrigações que nos impedem de apreciar o gostinho do conhecimento crescendo. acho que vai sem bem assim cmo você falou: no fim olharemos para trás e veremos a paisagem a distância. você já passou por isso, sabe bem como é. obrigada pela força!