Monday, January 12, 2009

2009: o ano dos tranquilos

Àqueles que sempre ignoraram a existência do trema, a tranquilidade chegou para ficar. O problema é começar o ano deixando pra trás grafias com que convivemos (no meu caso) há mais de vinte anos. É escrever jóia em um dia e no outro ter de lembrar que não é mais jóia, e sim "joia". Fiquei pensando em Bechara, tão otimista, defendendo o Novo Acordo... E se ele for preencer um cheque (coisa que geralmente a gente faz no automático, mais atenta aos números que às letras)? Será que vai pôr "cinquenta reais" ou insistir nos pontinhos? Das mudanças que o Novo Acordo provocou na nossa ortografia, a queda do trema é a que mais me incomoda. Penso na criança que está se alfabetizando: como vai saber se pronuncia aquele "u"? Cada palavra vai exigir dele um pouco mais até que, pela memorização (e não pela lógica), vai distinguir os sons mudos dos pronunciados. Bizarro? Imagine a minha cabeça. Esse acordo já é realidade há mais de seis meses pra mim (e ainda não superei o trema). Já é realidade desde quando a única fonte de consulta de que se dispunha era uma cópia do documento oficial, todo datilografado e cheio de coisas esquisitas (nem errata tinha ainda). E aí, da noite para o dia, revistas exibem infraestruturas, ideias, autoestimas, autorregulamentações, anti-inflamatórios, etc. E eu leio as notícias e começo a viajar de novo... Nos livros didáticos "obsoletos" que foram inutilizados, das embalagens plásticas e de papel que também sairão de linha, de tudo que se irá desperdiçar para fazer valer o novo. Numa época em que se fala insistentemente em sustentabilidade (que, a propósito, continua com a mesma grafia), vamos derrubar mais árvores ou gastar mais polietileno para recepcionar o novo. E produzir mais... inclusive mais lixo!

Comunidade lusófona, fiquemos todos tranquilos: reflorestamento e reciclagem continuam sem hífen. Senão seria mais um obstáculo pra se pensar em "desenvolvimento" sustentável.

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