Friday, June 11, 2010

Metade cheia, metade vazia

Você ouve No Surprises (Radiohead) e se vê na letra da música. Você ouve Fábrica (Legião Urbana) e não consegue entender como alguém tão distante de uma determinada realidade consiga descrever de forma tão fiel as sensações de quem é parte (vítima?) do sistema. Você tem um amigo reacionário, se diz socialista, vê o lado ruim de tudo, e você passou a vida toda achando que ele é pessimista ou carrega consigo frustrações fora do seu poder de resolução. Mas, quando você se vê nessas letras e começa a achar que seu amigo apenas é um cara que amadureceu mais cedo que você (e que, portanto, seu ceticismo tinha toda a razão), será a hora de ligar o alerta?

Metade de mim se sente triste, desmotivada, irritada. Mas, curiosamente, ao questionar suas escolhas, dificilmente se arrepende delas. Seria o estado máximo do conformismo, do tipo "fazer m**** é aprender", e aceitar as consequências com resignação? Não sei. Mas aceito com serenidade, não resignação. Uma serenidade que às vezes chega a doer. Mas, se aquilo que é sereno não dói, tem algo estranho aí. E é essa inequação que me paralisa. A garrafa está metade vazia, mas não me incomoda mais. É como se estivesse metade cheia. Mesmo sem estar.

Mas eu tenho tanto medo, tando medo. Parece que minha cabeça trabalha a uma velocidade muito maior, que a hiperatividade toma conta de mim e me mostra que há 54565458245 caminhos, e que eu sou capaz de escolher qualquer um deles. Ou melhor: sou capaz de seguir qualquer um deles, mas incapaz de escolher qual deles seguir.

Talvez o problema todo seja este: me julgar capaz, quando passei a vida inteira me julgando incapaz. E me julgando incapaz eu me permito errar. Mas, no momento, errar pode me deprimir profundamente. Por isso que deve ser mais fácil permanecer no erro em que já se está se errar de novo, e de novo, e de novo... até acertar pode fazer com que eu me sinta impotente. Deve ser aí que surgem as acomodações. Aquela que paralisa. Aquela que nos impede de acertar por medo de errar.

"Quem me dera acreditar
Que não acontece nada
De tanto brincar com fogo,
Que venha o fogo então!"

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