Sou pessimista. Sempre fui. Não sei precisar se pessimista de nascença ou de vivência, mas pessimista. Convicta. E, acredite, não vejo problema nisso. Não acho um defeito, a menos pelos outros. É isso. Sabe aquela história de que o problema são os outros. No caso de um pessimista, isso é a mais pura verdade. Não me levem a mal, mas o problema do pessimista são os outros (ou seria o grande Outro?). Não os outros você, minha mãe, meu amigo, colega de trabalho... não. Os outros no coletivo. Explico: não é fácil ser um pessimista. Aí você me diz que sou incoerente por ter dito há pouco que não via problema nisso. Pois é: eu não vejo, outros veem.
Não é fácil ser pessimista num mundo de otimistas. É duro porque eles parecem ingênuos e é duro porque eles não hesitam em recriminar quem ousa não acreditar nisso. Os otimistas também não têm culpa: somos socializados num mundo em que o fracasso é recriminado, a felicidade é perseguida (seja lá o que ela signifique, porque em cada sociedade ela significa algo distinto), tudo pode, deve, precisa dar certo, dar certo sempre. Então, ser otimista é padrão, ser pessimista é o desvio.
Eu não gosto de otimismo. Acho muito mais que ingênuo, acho conivência nossa com esse imperativo do sucesso absoluto, desumano com quem não é sempre bem-sucedido (ou seja, todo ser humano normal fora de uma rede social). Eu me sinto profundamente subestimada em minha capacidade de juntar duas premissas e elaborar uma conclusão quando um indivíduo me chega e diz "tudo vai dar certo" sem um argumento minimamente plausível que justifique essa crença. Isso me lembra aquela velha frase-feita (cujo autor desconheço, perdoem) de que todo otimista é um pessimista mal-informado. E que, para mim, faz todo o sentido.
Pois bem, aonde eu quero chegar com isso? Lugar nenhum. Apenas mostrar que o pessimismo é só mais uma forma de ver o mundo. Não vou ficar horas aqui divagando sobre o mapa cognitivo de um pessimista, apenas ressalvar que, como toda visão de mundo, esta é legítima. Portanto, parem de tratar o pessimismo como um mal a ser combativo e olhar o pessimista como um infeliz, a sua visão de mundo como uma sentença de infelicidade. Porque daqui, do meu cantinho, eu observo o otimista e todo o seu discurso de livro de autoajuda e me pergunto como esse indivíduo lida com a frustração. Se nós, pessimistas, lidamos melhor com ela? Não sei dizer. Apenas posso garantir que, em todas as nossas projeções, ela está ali, como uma real possibilidade. Se isso nos habilita a conviver melhor com ela, isso já é outra história...
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